Uma fake news se espalhou rapidamente nas últimas horas divulgada pelo portal Painelcentral.com e causou comoção nas redes sociais de todo o país.
Só pelo título da manchete já causou estranheza, já que promotor não manda prender, quem faz os pedidos de mandado de prisão ou apreensão são os juízes.
Analisamos a foto postada no portal e conseguimos encontrar a mesma foto postada no portal SelesNafes.com em uma matéria de abril de 2019.
Entramos em contato por telefone com o Promotor de Justiça Daniel Carvalho de Mariano, que nos confirmou a fake news. Mariano ressaltou que a adolescente não foi sequer encontrada e não se apresentou à polícia para ser ouvida.
Mesmo se a adolescente fosse encontrada hoje pela polícia ela não poderia ser apreendida, já que não há mais flagrante. Ela seria ouvida e liberada, aguardando em liberdade a decisão judicial do caso.
O caso
Uma adolescente de 12 anos atirou contra um garimpeiro que invadiu o sítio de sua família na zona rural de Alta Floresta, no Mato Grosso. O caso foi registrado no último domingo (28).
O garimpeiro teria invadido o sítio mesmo a adolescente pedindo para que ele não entrasse. Ela efetuou dois disparos que atingiram o braço e a barriga do garimpeiro. Após os disparos ele fugiu e pediu socorro em um hospital. Ele não corre risco de morrer.
Após o fato a Polícia Militar esteve no sítio, porém a adolescente não foi localizada.
Nota oficial do Ministério Público do Mato Grosso
A Promotoria de Justiça da Comarca de Alta Floresta não pediu a prisão da adolescente de 12 anos que no domingo (29 de setembro) atirou em um garimpeiro de 27 anos que adentrou no sítio da família dela, em Alta Floresta (a 792 km ao norte de Cuiabá). A Promotoria tem sido alvo de fake news com informações inverídicas sobre o caso, entre elas a notícia de um pedido de prisão que não foi feito. A informação falsa tem incitado a revolta da população induzida por notícias falsas postadas em um blog criado no dia 1º de outubro, que por sua vez foi reproduzido por outros sites e portais.
O Ministério Público Estadual esclarece que a citada adolescente não foi apreendida, mas é aguardada para prestar depoimento na delegacia do município. Um procedimento foi aberto para apurar o caso e só depois que for concluído é que será encaminhado à 2ª Promotoria de Justiça Cível de Alta Floresta para manifestação. Portanto, não existe nenhuma manifestação ministerial ou decisão judicial sobre o caso, embora as notícias falsas digam o contrário.
A foto divulgada como sendo de uma garota, conduzida por um policial militar, que atirou no garimpeiro não é do caso, mas ilustra a “matéria” que não faz menção a nenhuma fonte de informação ou sequer faz menção à autoridade constituída para dar legitimidade e confiabilidade ao texto publicado. Há indícios de que a foto utilizada seja de um caso ocorrido em Macapá (AP), em abril deste ano.
Uma verificação feita pela Promotoria de Justiça de Alta Floresta constatou que o blog que divulgou a matéria foi criado ontem, tem total de 12 postagens, sendo 11 sobre o espaço e planetas e uma do caso da garota que atirou no garimpeiro com o uso de espingarda, tudo a indicar fake news com tentativa de legitimar a mentira.
A Promotoria também verificou na “matéria” confusão entre as funções de promotor de Justiça com as de juiz de Direito, assim como porte de arma com posse de arma. Há ainda outros erros jurídicos grosseiros que não são comuns dentro de um jornalismo responsável e de qualidade ou traduz as habilidades de um jornalista. Por exemplo, um adolescente é apreendido e não preso, como cita a fake news.
O único fato real já divulgado corretamente pelos vários veículos é de que um rapaz de 27 anos adentrou no sítio da família da adolescente, que efetuou dois disparos de arma de fogo na direção daquele. Ele foi encaminhado ao hospital e a adolescente não foi encontrada para prestar informações.
Como o caso envolve adolescente, há um sigilo imposto pela lei para a proteção do menor de 18 anos.
Fake News – As notícias falsas são um fenômeno atual, das redes de comunicação via internet, que ameaça a democracia e a justiça. Em poucos segundos, uma informação falsa ganha status de verdade e pessoas, instituições e casos são julgados e sentenciados nos tribunais das mídias digitais.
No Congresso tramitam diversos projetos de lei que buscam atacar o problema com soluções como criminalizar a difusão dessas informações ou obrigar plataformas digitais a fiscalizar e remover esses tipos de conteúdos. Também foi instalada em setembro uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre o tema (CPMI das Fake News) que visa identificar os problemas e recomendar soluções.
A dica para lidar com as fake news ainda é a desconfiança: antes de compartilhar um conteúdo duvidoso, certifique-se de que se trata de uma informação confiável e se possui indicação da fonte.