Estava aqui pensando em uma dica de filme ou série para a família aproveitar no fim de semana e uma memória de livro me deu um insight. O Clube do Filme, do escritor e crítico canadense David Gilmour, é um desses que a gente leu faz um tempo e que continua reverberando anos e anos. Gilmour narra a decisão inusitada de tirar um “ano sabático” com o filho adolescente, que andava perdido nos estudos e na vida. A condição para largar os livros era simplista e, ao mesmo tempo, polêmica, mas com uma condição: assistir a três filmes por semana com o pai. Nada de listas acadêmicas ou regras rígidas, mas um mergulho afetivo no cinema que havia marcado a geração dele.
O resultado não foi apenas uma cinefilia improvisada, mas um ritual de aproximação. Entre Cidadão Kane, o Poderoso Chefão e tantas outras obras, pai e filho construíram uma rotina que misturava conhecimento, afeto e cumplicidade. E é isso que torna o livro cativante, pois nos lembra que assistir a filmes pode ser muito mais do que lazer, pode ser uma forma de educar, de abrir conversas difíceis e de compartilhar o que nos move.
E se a gente se inspirasse nesse “clube” e criasse o nosso próprio? Pais e filhos escolhendo um fim de semana para revisitar aqueles filmes que moldaram a infância e a adolescência. Quem não gostaria de rever E.T. – O Extraterrestre, chorar de novo com Meu Primeiro Amor, se divertir com Curtindo a Vida Adoidado, vibrar com o verdadeiro Rei Leão (o da animação, sem remakes) ou gargalhar com os Trapalhões? Eu mesma revivi mil vezes a História Sem Fim, que para mim foi quase um portal de fuga para mundos imaginários na infância, entre o medo e a vibração pelo maravilhoso mundo de Fantasia.
Para quem não tem filhos, por que não inverter o jogo e pedir aos pais ou avós que escolham seus favoritos? No repertório dos meus pais, certamente entraria um bom Mazzaropi, com aquele humor simples e ao mesmo tempo cheio de crítica social. Nessas sessões, não se trata apenas de rever histórias, mas de revisitar as pessoas e os vínculos que nos deram base de vida.
No fundo, o que Gilmour propõe em Clube do Filme (ninguém precisar parar os estudos, obviamente, nem deve) é que, diante da correria e da pressão da vida, a gente pare por um momento e assista junto. Sem redes sociais envolvidas, sem pressa, sem distrações. Não importa se o filme é um clássico premiado ou uma comédia da Sessão da Tarde. O que importa é o tempo compartilhado, as conversas e a lembrança de que cinema é, sobretudo, uma união de passados, presentes e futuros, na contação de histórias.
✨ Então fica a sugestão para este fim de semana: desligue um pouco os algoritmos de recomendação, esqueça a busca pelas novidades das plataformas e monte o seu próprio “Clube do Filme”. A memória também tem uma curadoria poderosa (às vezes até bem mais interessante) do que qualquer inteligência artificial.
📖 Para quem se interessou no livro:
Clube do Filme – David Gilmour
Publicado em 2008 (no Brasil pela Intrínseca, 2009)
Gênero: Memórias / Cinema
Conteúdo elaborado por Francine de Souza, jornalista especialista em comunicação audiovisual. Dúvidas, críticas, elogios ou sugestões: @francinedesouza.jor.psi.adv