Providências sobre discos voadores no céu de Curitiba, pedido de captura de uma sucuri de 18 metros de comprimento e de apetite voraz que apareceu em uma praça depois de uma chuva, além da remoção de um gambá de um apartamento, cujo dono estava arrependido de ter adotado.
Essas histórias não saíram de nenhum conto do cultuado escritor curitibano Dalton Trevisan. Os temas constam nos arquivos da Central 156 da Prefeitura de Curitiba, o principal canal de atendimento às solicitações do cidadão aos serviços municipais.
No próximo dia 7 de fevereiro, a Central 156 vai completar 40 anos de serviços prestados ao cidadão. Durante este período foram milhões de solicitações atendidas, muitas delas inusitadas.
“Amigos do prefeito”
O superintendente executivo da Secretaria de Governo Municipal (SGM), Airton Sozzi Júnior, que acompanhou a implantação do serviço de atendimento, explica que nos primeiros tempos era normal o que se chamava de “chave de autoridade”.
“A pessoa ligava, fazia a sua solicitação e depois dizia que era amiga do prefeito. Como naquela época não havia identificador de chamada, não havia como confirmar se aquilo de fato procedia”, relembrou.
Mas também existiam muitos casos inusitados.
“Teve o caso de uma senhora que ligou para denunciar que havia um homem sem roupa em frente à casa dela e de outro morador que avisou que havia encontrado um cadáver. Em todos os casos, os atendentes informavam as autoridades para as medidas cabíveis”, relatou Sozzi.
Não estamos sós?
Mas existem também solicitações, como a que chegou para a atendente Ivana Gonçalves, 62 anos, que trabalha no 156 há 4 anos e meio.
“Uma vez uma pessoa ligou contando que estava visualizando uma coisa estranha no céu e tinha certeza que era um disco voador. Eu tive então que encontrar a melhor maneira de tranquilizar ele”, contou Ivana.
Há outros registros de comunicados de OVNIs no Sítio Cercado nos arquivos do 156 e os cidadãos pediam orientação de como deveriam agir frente à iminência de uma invasão alienígena.
Sucuri e outros bichos
O mundo animal também sempre fez parte da pauta do 156. Um atendente recebeu uma solicitação de um cidadão que ligou para informar que uma sucuri de 18 metros, que apareceu depois de uma chuva, estava causando o maior rebuliço em uma praça de Curitiba.
De acordo com o solicitante, o bicho já havia engolido cães, gatos e até um bugio. O cidadão explicou que havia ligado para o Ibama e a Polícia Federal, mas como ninguém atendeu ele mesmo teve que salvar os animais da sucuri e agora estava apelando ao 156.
Em outra solicitação um cidadão desesperado pedia para a Prefeitura ir retirar um gambá do seu apartamento. Ele contou que encontrou o gambá na rua, se afeiçoou pelo bicho e o levou para casa, mas se arrependeu quando percebeu o forte cheiro das glândulas do animal, que é liberado para a defesa de predadores.
Fator humano
Independentemente da natureza das solicitações, os atendentes do 156 sempre acolhem os pedidos e procuram dar o melhor tratamento, mesmo que elas se refiram a coisas inusitadas.
“O que mais me chamava atenção para trabalhar no 156 era o fator humano. Depois de vir trabalhar aqui, aprendi muito mais sobre a cidade e como lidar com as pessoas, e ainda tenho muito a aprender. Eu me sinto muito feliz ajudando o cidadão. Esse trabalho mudou muito a minha percepção sobre quem faz atendimento”, comentou a atendente Ivana Gonçalves.
Reconhecimento do público
Este comportamento recebe reciprocidade do público, como conta a jovem atendente, Bárbara da Veiga, 22 anos, que trabalha há nove meses na Central 156.
“É muito legal ver o reconhecimento do cidadão, porque, embora tenham reclamações, depois que é resolvido é muito satisfatório. Às vezes recebemos ligações só para agradecer também”, contou.
Bárbara citou que fica satisfeita quando consegue resolver o problema do cidadão na hora.
“Mesmo quando parece um problema simples, pode ser uma coisa muito importante para a pessoa. Eu tento sempre lembrar que, mesmo que para nós seja só mais uma ligação, para o cidadão ela é única”, avaliou.
Explicações tranquilizadoras
A atendente Débora Pacheco, 34 anos, que já tem experiência em call center, disse que gosta muito do ambiente de trabalho do 156.
“Eu gosto muito de trabalhar aqui. O nosso foco é a acolhida ao cidadão. Muitas pessoas não sabem tudo o que a Prefeitura faz e querem apenas um direcionamento e no final somos nós mesmos que ajudamos”, relatou.
Ela citou como exemplo um atendimento recente que fez a um cidadão referente às atividades esportivas disponibilizadas pela Prefeitura na cidade.
“Certa vez eu atendi uma pessoa que ficou preocupada quando soube que a Prefeitura oferecia aulas de luta gratuitas. A pessoa temia que as ruas da cidade estivessem mais perigosas. Eu abri um protocolo, mas com as explicações fornecidas o cidadão ficou mais tranquilo”, comentou.
Demandas de todos
Além de atender e encaminhar os pedidos alheios, os atendentes muitas vezes se enxergam nas solicitações demandadas, uma vez que fazem parte da população e também têm as suas necessidades.
“É importante quando as pessoas ligam, porque elas estão em busca dos seus direitos, que também são importantes para mim mesma. Nós também recebemos reclamações, mas é sempre buscando alguma solução”, concluiu a atendente Ivana Gonçalves.