A Polícia Civil do Paraná (PCPR) comemora o aniversário de 30 anos de um dos seus grupos de elite, o Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre). A unidade é referência no Brasil em atuação anti-sequestro, operação de alto risco e casos de extorsão. Também é modelo na formação de policiais para operações táticas especiais. O preparo para o cumprimento de missões é a marca do grupo.
O aniversário foi comemorado em solenidade com a presença do vice-governador Darci Piana, do secretário da Segurança Pública do Paraná, Romulo Marinho Soares, e do delegado-geral da PCPR, Silvio Jacob Rockembach. O evento foi na Escola Superior da Polícia Civil, em Curitiba.
“O trabalho deste grupo em benefício do povo do Paraná é extraordinário, merece aplausos”, afirmou Darci Piana. “O Tigre está há 30 anos atuando pela segurança do Paraná. Um grupo que foi criado para cuidar de sequestro, de extorsões, e que tem feito isso com valor extraordinário, em defesa dos interesses da população”, afirmou o vice-governador.
Fundado em 30 de outubro de 1990, o Tigre/PCPR nasceu com o desafio principal de frear os sequestros que ocorriam no Estado naquela década. De lá para cá, esse tipo de crime se tornou raro diante da reconhecida eficiência do grupo, o que lhe permitiu ampliar sua atuação dentro das atividades de polícia judiciária.
Foi criado por decreto estadual com a finalidade de combater e solucionar os crimes de sequestro, cárcere privado, violação de domicílio, extorsão mediante sequestro, rapto e roubo com restrição de liberdade da vítima – sequestro relâmpago e em situações especiais.
Para o secretário Romulo Marinho, o grupo Tigre é uma valorosa marca da Polícia Civil e do Governo do Estado. “A excelência do Tigre está na força de seus integrantes, que com raça e motivação, vêm fazendo a diferença ao longo desses 30 anos”, afirmou.
RECONHECIMENTO – Durante os 30 anos de atividade, o grupo já participou de diversos treinamentos, inclusive, alguns fora do país, como SWAT (Special Weapons And Tactics) e o FBI – a polícia da Justiça norte-americana.
“O Tigre tem reconhecimento internacional pelos níveis de eficiência. É a unidade que tem o maior número de resgate de reféns e não existe outra no país com tamanha experiência neste quesito”, disse o delegado-geral da PCPR, Silvio Jacob Rockembach.
Os integrantes não dormem enquanto a missão não é resolvida, destacou o delegado-chefe do Grupo Tigre, Cristiano Quintas. “Declinamos de folgas, de estar com a família para encontrar reféns e prender sequestradores. Temos a melhor equipe técnica do País. O nosso treinamento atrai policias de outros estados interessados no aperfeiçoamento profissional”, disse ele.
Segundo o diretor da Escola Superior da Polícia Civil, delegado Luiz Alberto Cartaxo Moura, o Tigre mantém 100% de eficácia nos casos em que atuou, de sequestro e extorsão mediante sequestro. “Em todas as vezes em que teve que agir, desde sua criação, as vítimas foram resgatadas vivas e nunca houve necessidade de pagamento de resgate”, afirmou Moura.
No dia 21 de outubro, o Tigre deu apoio ao resgate da médica paranaense Tamires Gemelli Silva, sequestrada e mantida em cativeiro. Três pessoas foram presas em flagrante.
TREINAMENTO – O grupo de resgate é composto por equipes treinadas nos mesmos moldes dos grupos internacionais, observa rigoroso e detalhado preparo em tiro instintivo e de precisão, com armas curtas e longas, escalada e rapel, mergulho, primeiros socorros, artes marciais, guerra química, além de manter permanente condicionamento nas técnicas de assalto e infiltração, objetivando perfeição no momento de resgatar uma vítima. Mantendo armamento moderno e eficiente, as equipes componentes do Tigre estão aptas ao confronto com qualquer quadrilha. Toda ação tática é realizada com rapidez e surpresa
EXPERIÊNCIA – Investigador de polícia de 1ª classe, Milton Yukiu Suzaki, 59 anos, é o agente mais antigo do grupo Tigre e lembra quando o delegado Adauto Abreu Oliveira chegou de um curso no Rio de Janeiro com as ideias de como seria o grupo. Pela estrutura inicial, que continua até hoje, as equipes devem se dividir em três principais frentes: negociação, apoio técnico e resgate.
O investigador de 1ª classe, Luércio Turra, 60, está desde 1995 na PCPR e, desde então, atua no Tigre. Ele participou de cerca de 400 missões de rotina. Perdeu as contas do número de participações em “estouros de aparelho” – técnica em que os policiais entram em um imóvel para fazer resgate de refém ou com o objetivo de prender um criminoso.
O investigador conta que o grupo foi um dos primeiros a receber autorização do Exército para atuar com determinados armamentos. O grupo iniciou com técnicas empregadas no Exército. Os métodos militares passaram por adaptações e então foram empregados nos treinamentos dos policiais. A influência também veio do curso com o SWAT, com passagem pela academia do FBI.
SEQUESTROS – A década de 90 foi marcada por sequestros no Brasil. O Paraná esteve entre os três estados com o maior número de ocorrências -cerca de 20 por ano. Após cinco anos de intenso trabalho de elucidação de crimes dessa natureza, o número passou para quatro por ano.
Suzaki participou de praticamente todas as soluções de sequestro. Para ele, o mais marcante ocorreu em Marechal Cândido Rondon. Havia crianças, mulheres e um empresário refém dos criminosos. Após uma semana de intensa negociação, o Tigre fez uma invasão tática.
“Era uma quadrilha bem organizada. Pediam dinheiro, carro para fugir, colete. Fizemos a maquete da casa com a prefeitura, estudamos tudo antes de entrar. Durante a invasão, os criminosos reagiram e três deles foram mortos”, conta.
CURSO – Em 1992, ocorreu o primeiro curso de formação para os policiais do Tigre. Suzaki é o único integrante da ativa que está desde a fundação. “Após a primeira experiência, o Tigre realizou o Curso Básico de Operações Táticas e Táticas e Técnicas Operacionais. Foi assim, na busca de aperfeiçoamento, que em 2002 iniciou a era do Curso de Operações Táticas Especiais (Cote), que até hoje está em vigor.É muito procurado no Brasil. Todo mundo pede para participar”, explica Suzaki.
CÚPULA – A unidade de elite da PCPR já teve como integrantes pessoas da cúpula da Polícia Civil do Paraná. É o caso do delegado-geral da instituição, Silvio Jacob Rockembach, e do delegado-geral-adjunto, Riad Braga Farhat
“Quinze anos da minha história na Polícia Civil foram nessa unidade, em uma época que o crime da moda era o sequestro. Fiz minha história, participei de dezenas de resgates de reféns, fiz verdadeiros irmãos e amizades. Aqui, eu me realizei profissionalmente”, disse Riad.
FORMAÇÃO – Com o recuo no número de sequestros, o Tigre tem papel fundamental na formação de novos integrantes, apoio tático e operacional a unidades da Polícia Civil do Paraná e no apoio a cursos de instrução na Escola Superior da PCPR.
Operações que envolvam cumprimentos de muitos mandados costumam ter apoio desse grupo. O delegado-chefe do grupo, Cristiano Quintas, afirma que os desafios continuam para os integrantes do Tigre. “Os policiais continuam a ser testados fisicamente de forma periódica e os critérios para formação de novos são altos”, disse ele. Ao todo, 177 pessoas foram formadas em cursos realizados pelo Tigre desde a fundação.